Problemas com barulho: o quanto a poluição sonora afeta a sua vida?
Já estamos no Ano Internacional do Som e não foi por acaso que essa temática foi escolhida pela Unesco. A preocupação com o impacto do ruído na vida das pessoas e também na organização social é cada vez maior – e mais necessária – em todo o mundo.
Dados divulgados recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que uma em cada três pessoas na Europa é exposta a altos volumes de som ao longo do dia, e 20% não conseguem dormir bem pelo excesso de ruído. Só no Reino Unido, 1,8 milhão de pessoas afirma que a poluição sonora as deixa estressadas.
No Brasil o cenário não é diferente. Ocupamos, ainda de acordo com a OMS, o quinto lugar no ranking dos países com os maiores índices de poluição sonora. Veja que a situação aqui é similar quanto ao tipo de ruído que causa o maior incômodo. Dados apontam para algo em torno de 65-70% do incômodo das pessoas associado ao trânsito, ou seja, o ruído rodoviário. Em algumas cidades as estatísticas se baseiam em dados de reclamação direta aos órgãos de fiscalização ambiental e aos centros de chamados da polícia, que apontam também as casas noturnas e bares como grandes responsáveis pela perturbação do sossego.
Da saúde ao desenvolvimento do aprendizado, passando por questões econômicas e sociais, além de conflitos judiciais e até crimes; o ruído está em toda a parte e é invisível. Todos esses fatores podem ser influenciados – ou causados – pela poluição sonora ou por outros problemas com barulho e com a falta de isolamento acústico adequado.
Por isso, vamos abordar ao longo desse texto alguns aspectos da vida do ser humano e da sociedade que são direta ou indiretamente impactados pela exposição aos ruídos.
Problemas de saúde
O primeiro aspecto a ser considerado é como o barulho afeta o organismo humano e como ele contribui para o desenvolvimento de diversos problemas de saúde.
Entre os problemas com barulho mais comuns estão, obviamente, os relacionados à audição e ao estresse. Uma vez que a poluição sonora contribui para o aumento de casos de surdez e causa problemas psicológicos, esse é um típico problema de saúde pública, principalmente nas grandes cidades.
Níveis de pressão sonora acima dos 120 dB, em geral, causam irritação. Acima de 130 dB já é possível que haja uma ruptura parcial do tímpano ou perda de parte da audição. Alguns autores estabelecem um limiar de dor em 149 dB, mas nosso sistema auditivo é complexo e esse valor pode variar um pouco de acordo com as frequências que compõem o som.
Além disso, a exposição ao barulho pode causar outros problemas como: estresse, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, insônia, estado de vigilância, ansiedade, depressão, hipertensão, distúrbios endócrinos, entre outros.
Vale lembrar que a contribuição da poluição sonora para a incidência desses males varia em cada organismo e depende do tempo e da intensidade do ruído ao qual o indivíduo está exposto.
Impacto ecológico
Não são somente os seres humanos que sofrem com o barulho. Nos últimos dias, acompanhamos a preocupação dos tutores de animais domésticos crescer por conta dos tradicionais fogos de Réveillon. E ainda que a discussão sobre os efeitos dos ruídos em animais seja mais evidente nessa época, esse é um problema que perdura, em maior ou menor grau, ao longo de todo o ano.
Cães, gatos e aves que são expostos a barulhos excessivos podem sofrer mudanças no metabolismo, o que também pode causar problemas renais e prejuízos à audição.
Da mesma forma, a crescente urbanização do ambiente e as rodovias também fazem com que os animais silvestres sejam impactados. A poluição sonora é uma ameaça, por exemplo, para espécies migratórias que utilizam os sons para se comunicarem. Além disso, o ruído excessivo provoca alterações no comportamento de animais em cativeiro, interferindo em suas condições fisiológicas e diminuindo a qualidade de vida. E quando falamos em qualidade de vida, naturalmente pensamos em nossa casa e trabalho, portanto esse é um tema ligado à disciplina de conforto ambiental, dos cursos de arquitetura.
Conflitos e questões judiciais
Os problemas com barulho estão entre as principais causas de conflitos entre vizinhos e também estabelecimentos comerciais em centros urbanos. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, a cidade de São Paulo registrou, no primeiro semestre de 2019, 9.449 reclamações de barulho. O que equivale a uma média de 52 ocorrências por dia.
Os conflitos vão desde discussões em condomínios por conta do famoso toc toc entre lajes até casos mais graves em que as brigas acabam em morte.
Para lidar com a questão do ruído, sobretudo o noturno, o Brasil conta como uma série de leis e normas técnicas utilizadas para garantir o direito ao silêncio. Se você estiver mais interessado no contexto legislativo e do direto, recomendo ler mais sobre como a fiscalização do ruído ocorre em diferentes cidades do país no texto Poluição sonora e direito ao silêncio.
LIMITES DE NÍVEIS SONOROS PERMITIDOS (LF 9.605/98, LE 6.621/94, LCP/41 E CF/88)
TIPOS DE ÁREAS | DIA | NOITE |
Sítios e fazendas | 40 | 35 |
Residencial urbana ou hospitais ou de escolas | 50 | 45 |
Área Mista residencia | 55 | 50 |
Mista comercial | 60 | 55 |
Área mista | 65 | 55 |
Industrial | 70 | 60 |
Uma tabela igual a essa acima, com valores e nomenclaturas um pouco distintas, se faz presente em cada legislação municipal, ou ainda se referencia a norma técnica ABNT NBR 10.151 ou o CONAMA 01.
No caso das empresas, os problemas relacionados a ruído impactam diretamente na receita, por conta de multas e concessão de alvarás de funcionamento. Ou seja, estar dentro da legislação vigente está diretamente ligado a manter o negócio funcionando ou ainda pode decretar a falência de alguns negócios nos casos de poluição sonora excessiva e recorrente.
Prejuízos econômicos
Multas são apenas um dos exemplos de como a poluição sonora traz prejuízos financeiros para negócios de diversos tamanhos e segmentos. Mas há formas de se prevenir ao contratar projetos, consultorias e sistemas de monitoramento de ruído com especialistas.
O impacto do ruído na saúde e na qualidade de vida das pessoas também acarreta em perda de produtividade dos trabalhadores e, consequentemente, redução de lucros nas empresas. Esse é um caso bem comum em escritórios corporativos que se utilizam de uma arquitetura de planta aberta (open plan) com times multidisciplinares e a união de profissionais de vendas, suporte e desenvolvimento.
Além disso, buscar soluções de tratamento acústico também tem se tornado cada vez mais um diferencial competitivo tanto em espaços destinados ao trabalho quanto à moradia. Isso faz com que que edificações e empreendimentos sem tratamento acústico tenham uma defasagem competitiva no mercado e enfrentem problemas relacionados ao retrabalho e ao aumento de custos na construção/reforma. Por outro lado, empresas que passam a contar com escritórios e ambientes corporativos acusticamente preparados, garantem a produtividade e a saúde dos trabalhadores. Dessa forma, estabelecimentos comerciais como restaurantes, igrejas e casas noturnas/bares também podem oferecer uma experiência diferenciada aos seus clientes e manter-se dentro da legislação.
E agora… Como livrar-se do barulho?
Estar livre dos problemas com barulho é uma tarefa quase impossível na vida em sociedade, principalmente em grandes centros urbanos. Mas existem soluções acústicas capazes de minimizar os efeitos da poluição sonora no organismo humano e nas relações sociais. E muitas pessoas tem procurado por locais de relaxamento dentro de centros urbanos.
De forma geral, podemos dizer que existem três formas principais de se proteger do ruído:
na fonte do ruído, por meio de isolamento acústico de equipamentos, por exemplo;
no caminho entre a fonte e o receptor, com a criação de barreiras acústicas, e tratamento acústico de edificações;
no receptor, com o uso de protetores auditivos, sistemas ativos e fones antirruído.
O tratamento acústico das fontes de ruído e dos ambientes tende a ser a solução mais eficiente para combater a poluição sonora, mas em geral cada caso é um caso e um trabalho profissional é necessário para evitar gastos desnecessários e readequações ao se optar por “soluções” improvisadas.
Acústica por quem entende de acústica
Atingir o conforto acústico e reduzir os impactos do barulho demanda o apoio de profissionais especializados. É claro que existem formas caseiras de minimizar ruídos, mas é preciso ter cuidado com as “soluções do it youself”. Isso porque alguns materiais como caixas de ovos, por exemplo, são comumente apontados como isolantes acústicos, sendo que sua eficiência não passa de um mito.
Por isso, é fundamental que o tratamento acústico de um ambiente – uma casa, um estabelecimento comercial, um escritório, ou uma indústria – seja feito por um profissional da área. É ele quem vai elaborar o projeto acústico mais adequado à edificação, além de apontar quais materiais e soluções vão contribuir para o conforto acústico, eliminando a necessidade de retrabalho ou gastos desnecessários.